segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Paixão ou Hábito?



Ler e ler...

As pessoas dizem que devemos ter hábito de leitura.
Estranho, né?
Mas depois que ouvi a justificativa para o erro desta fala, entendi a razão de sempre soar estranho o “hábito de leitura”.
Uma vez, ouvi da Fanny Abramovich (esplêndida escritora) que não se cria hábito de leitura, pois hábito vem de coisas repetitivas, obrigatórias.
Criamos hábito de tomar banho, hábito de escovar os dentes, hábitos de higiene... alguns homens criam o hábito de abrir a porta para a mulher passar, apesar disso ser cada vez mais raro, e assim por diante.
Mas leitura? Ah! Leitura não é hábito, leitura é paixão, é um relacionamento que construímos ao longo dos anos, é como um casamento!
Que ver?
Quando ainda somos crianças, já percebemos o olhar dos amantes da leitura, eles costumam soltar faíscas dos olhos ao ver um livro colorido, interessante... então, se demoram folheando, inventando histórias para as gravuras, conversando com os personagens, antes mesmo de aprender a decifrar as letras, esses pequenos enamorados, leem livros.
Há os que não amam de imediato, pegam o livro, tentam algum contato, mas talvez por influência de outro amante, para agradar algum ser humano, não por paixão... tudo bem, não há problema nenhum em não ser um amante desde a tenra idade, pois enquanto o pequeno aprendiz manuseia um livro sem muita vontade, dá-se a chance a si mesmo, de uma hora encontrar aquele livro que o fará elevar os mais puros suspiros de paixão.
A minha primeira paixão? Lembro-me como se fosse hoje, era um livro grosso, velho, já doado para a escola por alguém que usou e abusou de suas páginas. Até aquele dia, eu era uma leitora habitual, lia sem paixão, lia para impressionar minha mãe, pois minha irmã, ela sim, era louca de amor pelos livros, queria ser como Fabiana, mas não havia amor, era algo mecânico, habitual... foi então que vi, no canto da prateleira da escola, um livro de capa marrom, escrito em letras antigas e surradas “O Diário de Anne Frank”, eu passei os dedos lentamente sobre a letra gasta, então virei-o de costas para ver o que trazia e vi, um desenho, como se fosse uma foto antiga, de uma menina simples, de cabelo preto, um pouco armado, revoltados fios, percebi que ela não era perfeita, então achei interessante, me identifiquei.
Foi amor a primeira vista, eu sai sorrindo apertando-o contra o peito, corri para a sala de aula e guardei meu tesouro na bolsa, amei cada página, sorri com as coisas idiotas de Anne, chorei ao ver que ela se achava feia, tentei começar um diário, procurei fotos de sua família, eu tinha 12 anos e não havia internet naquela época como hoje, mas encontrei no meio do livro algumas fotografias copiadas para o deleite do leitor, fiz-me parte da família de Anne, ela foi uma grande amiga, copiava suas piadas (aquela sobre o nascimento dos bebês), ouvia (lia) suas reclamações sobre a irmã mais velha, e a velha disputa de irmãs, me sentia real na leitura da menina da 2ª Guerra Mundial, até que tudo ficou silente, Anne foi encontrada em seu anexo, ela não sobreviveu e eu chorei, fiquei indignada, mas agradeci por ela ter escrito e seu pai ter publicado.
O Diário de Anne Frank foi apenas a primeira de muitas paixões que surgiriam.
Ainda viajo e me apaixono nas páginas dos livros, é estupendo, é incrível, não é hábito, é paixão, é necessidade de decifrar a vida de outros em meio as letras.
Se você, querido leitor, ainda não ama assim, não se canse, não se martirize, continue nas buscas, procure incansavelmente, leia um, leia dois, leia três, talvez seja enganado pela capa, mas não perca a esperança, um dia, você sentirá o cheiro da paixão literária, abraçará aquele ser pequeno e enigmático, então começará a decifrar seus códigos, se identificará com as paixões e as lágrimas, o lerá de madrugada, desejando que nada lhes interrompa, e assim... a cortina se abrirá e estarás, de uma só vez, no universo apaixonante que é a leitura!
Enquanto não tiver encontrado seu amante, continue a procura.
E para os que já amam loucamente, os que fecham o facebook por um livro, os que preferem o cheiro da livraria ao cheiro das lojas de grife, os que escolhem uma sombra, o silêncio e o amante, como o melhor programa de um fim de semana, aos que quando tem um livro nas mãos, não escutam mais nada que não sejam suas páginas gritando um enredo apaixonante... a esses, eu só posso dizer: Sejam bem vindos a vida indecifrável e apaixonante!

Deixo um vídeo, lindo, fofo, que mostra uma menininha, daquelas que de pequena já se mostram apaixonadas pela arte de decifrar sentimentos escritos:

Já se apaixonou alguma vez por um livro? Lembra do primeiro amor literário? Conte!

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