sexta-feira, 25 de março de 2011

E viu a necessidade...



Faz tempo que não venho escrever por aqui, mas ontem ocorreu alg

o que me tocou profundamente de forma que não pode deixar de ser relatado.

Era terça feira quando o aluno Maxuel do 1º ano EM foi visitar uma creche que carente, Maxuel é só um menino, como todos os outros que você pode encontrar ao abrir a porta de uma sala de 1º ano, mas não só viu a necessidade, como também, sentiu e percebeu que ele f

az parte desse planeta, do Estado, da Cidade e do bairro, entendeu que só “ver” a necessidade não m

uda nada, não faz a diferença, foi então que ele decidiu SER a diferença.

Bem, como surgiu a vontade de ir até a creche, eu não sei.

Só sei que reuniram-se num grupo pequeno e pediram para Maxuel ir lá conversar com a coordenação da escolinha, pedindo para que eles (o pequeno grupo) pudesse ir ajudar em uma tarde, brincar com as crianças e levar alegria.

Chegando até o local, ele pode entender o que é uma creche pequena e filantrópica, que tem pouco ou nenhum apoio do governo, que depende unicamente da boa vontade da sociedade para a manutenção.

Crianças de 2 e 3 anos, que passam o dia inteiro ali, com professoras que traba

lham por amor, com um salário de 400,00 (a creche é filantrópica, então, é tudo por auxílio, não dá para pagar mais que isso para elas), e o cenário que viu, inicialmente, era bem agradável, não conhecendo o que se passa de verdade, pode até ser confortável.

Mas o garoto de só 14 anos começou a conversar com a coordenadora, ela

amou a ideia deles irem lá brincar com as crianças, afinal de contas, é uma professora para 20 crianças pequenas, mas ela começou a mostrar o local, havia nos fundos uma pilha de tijolos que foram usados para a construção de um banheiro e reforma do outro, antes a escolinha tinha apenas um banheiro pequeno (nada de feminino e masculino, nem de exclusivo para funcionários), os tijolos atrapalhavam a área de recreação e tornava o local perigoso, já que criança é especialista em correr olhando para trás ao fugir de um adulto. Também viu a escassez do cardápio na alimentação de crianças tão pequenas e com necessidades nutricionais, não deixou de perceber a quantidade pequena de funcionários em relação as prioridades a serem resolvidas para que as 80 crianças que frequentam em período integral a creche pudessem ter um lugar alegre e agradável quando estão longe dos pais.

Ele retornou para o grupo, eram mais seis meninas, também da mesma idade: Thiely, Fabiany, Edilaine, Kallyta, Juliana, Letícia e mais uns poucos alunos.

Observando que havia muito a se fazer, resolveram expandir a ideia, convi

dar

am a turma toda: 43 alunos.

Todos se animaram, o plano deles era ir na creche já na quinta-feira, ou seja, só tinham 1 dia e meio para se organizarem.

Vale lembrar que a escola está incentivando os alunos a participarem de projetos sociais, mas como estamos em período de provas, os professores ainda não colocaram os projetos em ação, para mostrar a vontade de “fazer acontecer” eles começaram tudo SEM auxílio de professores.

Quando Maxuel me contou, logo expliquei para ele a realidade da creche, que já conhecia, apóie o projeto, mas avisei que ia trabalhar na quinta até quase 13 horas, de forma que só poderia encontrá-los já no local, não dava pra eu ir acompanhando-os até lá, eles se organizaram com outro professor para irem a pé (fica perto da escola) e dividiram-se em grupos de forma que uns ficariam responsáveis pelo trabalho de arrumar o ambiente (carregar os tijolos), outros iriam pra cozinha preparam um lanche gostoso e diferente e por fim, um outro grupo animaria as

crianças contando histórias e cantando musiquinhas, inclusive, decidiram identificar cada grupo com fitas coloridas para não se perderem nas tarefas e assim os funcionários da creche poderiam ordená-los sem confundir a área de atuação de cada um. (achei muito fofa a ideia, criativos de

mais)

Pasmem, eles arrecadaram uma verdadeira feira de lanches com frutas, biscoitos, leites, iogurtes e até alimentos para confecção de almoço, e mais, fizeram uma cota para que pudessem preparam cachorro-quente para os pequeninos!

Chegou quinta-feira, eu fui trabalhar e quando me preparava para ir direto para a creche, recebi a ligação da secretária da escola, dizendo que estavam todos lá, num alvoroço e o professor que iria acompanhar não tinha comparecido de forma que sem um adulto e funcionário da escola, eles não podiam sair e detalhe, começava a chover.

Raciocinei rápido e fui até a escola, lá decidiríamos o próximo passo.

Ao chegar, foi uma surpresa, quando correram e me abraçaram, pulavam de alegria por eu ter ido até lá. Mas para que isso? Eu simplesmente tinha ido até a escola acompanhá-los, quem havia desenvolvido TUDO foram eles! Fiquei emocionada ao perceber a gratidão que eles sentiam em terem a oportunidade de fazer o bem ao próximo, realmente, eles tinham aprendid

o o que é AJUDAR, que tem mais haver com você do que com quem você beneficia.

A chuva aumentou e liguei para o diretor, ele estava vindo de um compromisso da escola, ainda nem tinha almoçado e ia em casa comer, fiz o que toda mulher sabe fazer: pedi, pedi e pedi.

Ele atendeu, pulou o horário já tardio de almoçar e foi direto para a escola, mas um carro para tantos alunos é pouco, fui até a Gisele (nossa “Bombril”: mãe, coordenadora, psicóloga...) e ela parou com o trabalho, que não era pequeno, chamei também o Wilton (área de finanças) e com três carros, lotados de alunos em fase de crescimento, com o porta-malas repleto de sacolas, fomos até a creche Tia Antonina.

Chegando lá, eram como abelhas trabalhando em uma colmeia, cada um em sua função, ninguém parado.

Deixaram para as crianças todo o lanche arrecadado antes, fizeram um caldeirão d

e molho para o pão de cachorro quente e serviram com refrigerante, interessante que organizaram tudo rapidamente, fizeram unicamente por amor, nada de notas ou recompensas, nem gincana para incentivar... o incentivo foi AMAR ao próximo como a si mesmo, até na hora de escolherem o cardápio, que imperou a questão “gosto de comer cachorro-quente, eles também gostam”.

Aprendi um pouco mais com eles, vi que por vezes deixamos de apresentar um projeto social por não haver um incentivo, um prêmio, uma nota para oferecer, quando na verdade, esses adolescentes querem ajudar pelos simples prazer de ver o sorriso do outro.

Ao final, vários contavam com lágrimas nos olhos sobre fatos que marcaram aquela tarde, uma aluna contou de uma garotinha que pediu colo e a chamou de mãe (claro, um bebezão de dois anos na escola, ela só deseja carinho), outra disse que na hora de entregar o pão o menininho pediu: - Dá mais um, mãe!

E assim por diante... uma tarde escrita com gotas de chuva que mo

tivaram adolescentes a demonstrar e ensinar o verdadeiro sentido do verbo “servir”.

Ps.: Feliz demais em ser professora de cada um, citei só o nome dos que começaram com o projeto pois depois, ficou LINDO, a turma do 1º ano INTEIRA vestiu a camisa e fez acontecer! Parabéns pra todos que participaram.