Quando se acaba a prova de um concurso, não tem nada pra fazer, precisando que o tempo passe pra levar a prova pra casa.
Então a pessoa pega as costas da avaliação e vai rabiscar um conto de Natal.
Quer ler?
Lá vai!
Quanto custa seu sonho?
Judith trazia consigo uma caixa de papelão, seu corpo franzino, descalça, o vestido já desbotado e remendado, contrastava com o vermelho vivo da caixa.
Por entre os fios de cabelo que caiam irregularmente sobre a testa, podia-se notar um sorriso amarelo.
As mãos magras com dedos compridos, pintadinhos pelo encardido das unhas, destacavam-se com a suavidade em seu modo de andar e segurar o objeto.
Ao passar pelos moleques, estes aquietaram-se pois sabiam que ninguém ganhava de Judith na corrida, que seu estopim era curto, se provocada logo batia nos meninos, corria, pegavam-se pelo chão e rolavam, só parava quando ela via o adversário dando-se por rendido.
Mas não naquela tarde, ela caminhava com as pontas dos pés, na ânsia de nada atrapalhar seu trajeto.
Aos poucos, formou-se uma pequena procissão, Judith na frente, os moleques atrás, em curiosidade cochichavam querendo saber o destino da menina, mas quem teria coragem de perguntar?
A menina parou diante de uma grande árvore que piscava, os moleques esbarraram-se para ver o que aconteceria.
À frente dela estava uma fila ainda maior, meninas de laço no cabelo, vestido estampado e sapato de verniz.
Judith olhou para seus pés, depois para o sapato de uma garota, mordeu com vergonha o cantinho da boca.
Podia ouvir as risadas do velho gordo com roupa vermelha, uma por uma das crianças sentavam-se no colo dele, cochichavam algo e saiam depois, sorrindo, mas de mãos vazias.
- Como pode? Se ele é o dono dos brinquedos, porque elas saem sem nada? – Perguntava-se Judith.
Ela olhou para o lado, tinha uma capelinha de madeira, já velha, cheirando a mofo e chuva, para a surpresa dos menos, Judith deixou a fila, foi para frente da capelinha, abaixou-se e viu a cena:
Um boneco pobrezinho, encima de fenos, embrulhado num paninho, uma mulher sem jóias ou brilho, com seu homem também pobre.
Judith sorriu de alegria, ela encontrou alguém com quem se parecia!
Como o bonequinho nada tinha, provavelmente estava mais precisado do que ela.
Parecendo um ritual, abaixada coloca a caixinha, sorri na certeza que fez boa escolha, beija seu dedo indicador e encosta o mesmo no rostinho do boneco.
Agora ela não está só na triste sorte da vida, viu alguém que tinha menos ainda e sorriu em se sentir útil.
Já voltando para casa, os meninos se dispersam desanimados, sem entender nada.
Então o guarda chega até ela, com sua caixa na mão e pergunta:
- Que ideia é essa, menina? Deixando uma caixa vazia para quem?
Com os olhos brilhando, ela responde:
- Ta vazia não, seu moço, ai tem minhas lágrimas de ontem, lágrimas de quando eu pensava que só eu não tinha presente de natal, então resolvi presentear aquele que todo ano diz que vai passar lá em casa, mas sempre esquece, estou falando do velho gordo de memória fraca! Mas então, percebi, que ele não esquece só da minha casa, mas que mesmo morando do lado da casa daquele menino boneco, não deixa também nem um presentinho pra ele! Por isto, o menino merece mais que o velho de roupa vermelha!
O guardinha não tinha o que dizer, ainda segurando a caixa, vai até Judith e indaga:
- Então o que você gostaria de receber neste natal?
A menina olha para o chão, chuta algumas pedrinhas, por fim levanta os olhos e diz:
- Lá em casa tem pão e leite, roupa a gente sempre ganha da patroa da minha mãe, não quero nada não, nem preciso de algo grande assim, se o senhor puder dar algo, dá pro menino lá da casinha da praça, vi que ele só tem um paninho, que a mãe é pobre e o pai também, não esquecer dEle no natal, já seria bom demais.
O homem ficou sem ação e resposta, Judith se volta e faz uma última pergunta:
- Falando nisto, em não esquecer, o senhor que vive na praça, sabe o nome dele?
- Sei sim. – Disse o homem meio envergonhado. – É Jesus! Menino Jesus!
Judith dá um sorriso bem largo, de costas acena para o guarda e diz:
- Bom saber, bom saber... não vou me esquecer dele! Lembre-se você também!
*** E então, quantos estão preocupados em aproveitar esta data simbólica pra celebrar o nascimento do Salvador? Que Ele nasça todos os dias em nós!
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