Sempre amei abraçar.
Ouvi muitas palestras que explicam isto, dizendo que o ser humano precisa de 8 abraços por dia, para ser feliz.
Foi então que outro dia, no trabalho, presenciei isto.
Uma criança para quem dou aulas, criança esta que geralmente é tranquila, teve uma atitude que eu não esperava, então chamei-a para conversar.
Enquanto eu conversava com ela, ela se mostrava irredutível, era a figura de uma precoce adolescente rebelde.
Então eu mudei de discurso, até ali, eu estava de “cócoras” em sua frente, ai sai e sentei ai lado, segurei com as duas mãos em seu rosto, virando para mim e perguntei:
- O que há? Você não é assim! Eu sei que você não é assim! Me explica a razão disto tudo? Esqueça que sou sua professora, olha e veja ágora só uma amiga.
Então as lágrimas começaram a correr fartamente por aquele rosto infantil, ela chorava silenciosamente.
Eu toquei em seu ombro e deitei-a em meu colo, ela sem nenhuma resistência entregou-se e chorou de soluçar, seus ombros balançavam e era possível ouvir a dor que ela estava sentindo.
Não fiz mais nenhuma pergunta, permiti que ela ficasse daquela maneira até esvaziar-se.
Foi então que sem eu dizer nada, ela confessou seus problemas, o peso que vinha carregando nos últimos dias, o quanto era complicado guardar o segredo de um adulto.
Então tentei ajudar, por algum momento procurei uma forma de justificar a atitude do adulto, para que ela não esperasse sempre algo positivo deste mundo, mas minhas argumentações acabaram quando perguntei se as coisas tinham mudado, se antes ela recebia carinho, se antes ela tinha alguém que a acompanhasse até a cama e orasse com ela.
Ela simplesmente me olhou, como se realmente não conhecesse nada daquilo e disse:
- Não mudou nada, isto nunca aconteceu, sempre só pediram pra eu ir dormir, e eu ia... agora, a diferença, é que sinto falta um pouco mais da presença de pessoas perto de mim, mas sempre foi assim.
Foi complicado imaginar como é dormir depois de uma ordem.
Quando a última coisa que você ouviu é:
- Vá dormir.
E não:
- Durma com Deus, amo você.
Meu coração que já é de manteiga, naquele momento se derreteu, segurei-me para não chorar junto dela, não estaria chorando pela ausência que ela sofria naquele momento, mas pelo que ela nunca sentiu, pelo toque que nunca provou e as palavras que nunca ouviu.
Fiquei quieta e a única coisa que tentei repassar foi o que ela sentia falta.
Enquanto ela ainda chorava e desabafava, eu só passava os dedos por entre seus cabelos, percebi como a pele de seu braço era bonita e fiquei a pensar se quem criava ela já tinha notado todos estes detalhes, demorei passando os dedos pela sua face e notei o desenho perfeito que existe, a combinação dos traços.
Sim, é uma criança linda!
E chorei por dentro, ao pensar que talvez poucos tivessem visto aquilo.
Desliguei-me um pouco do sentimentalismo que acaba inundando-me e procurei aconselhar-lhe para uma solução, diante dos problemas que ela falou.
Ela sorriu com algumas opções que falei, parece que por fim ajudou.
Então, no dia seguinte eu recebi uma cartinha.
Na inocência que impera em todas as crianças, ela pediu que um colega entregasse, como se a carta fosse segredo, do lado de fora não tinha nada escrito, só meu nome e pedindo que eu lesse o conteúdo.
Então abri e li.
Dizia assim:
Isto que é professora!
Franciellen é além do que se pode ver e ler, é muito mais coração que se vê nela.
Não é só uma tampa de panela ou a trava de uma janela. Ela não é detalhe em sua função.
Ela é aquela que agita tudo, treme o mundo e vai em frente para ver você feliz.
Mas quando ela precisa brigar, ela briga, mas é pro seu bem.
Ela é carinhosa, cuidadosa, amorosa, afetuosa, corajosa!!!
Enfim, tudo que uma professora precisa para cativar o aluno, ela tem.
Ela leva a sério o seu trabalho, e arrebenta!
Ela leva o infinito de amor e aprendizado.
Ela leva ao além que contém alguém, e esse alguém é a educação em um amor amigável.
(produção independente, textual, criança de 9 anos)
Por fim, ela assinou seu nome, mas desde o início eu sabia de quem se tratava.
Mais tarde, passei por ela, abracei bem forte e sorri, olhando em seus olhos.
Não precisei falar nada, sabia do milagre que existe em um abraço sincero.
Pensei em quanto os adultos tem perdido, ao deixar de abraçar seus filhos, sobrinhos, criança com quem convivem.
Não perca esta oportunidade, é o apelo de hoje.
Não deixe para amanhã o afeto que seus braços podem oferecer hoje.
Não espere que o pequeno corra até você e dê aquele abraço, em que mais abraça as pernas do adulto.
Abaixe-se, se faça criança por um momento, fique na altura do pequeno, e ofereça algo que não custa nada, mas é de imenso valor: o abraço sincero!
Um abraço apertado pra você!
2 comentários:
Gostei muito.
Nossa eu estou longe de ser feliz, nao consigo nem 1 abraço por dia . . . .snif
Que isto, menino... pensa bem... tu deve receber bons abraços!
Se ainda não recebe, mais uma razão para dar o primeiro passo: oferte!
=)
Um abração pra ti!
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